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SOBRE TE ESQUECER

Jamie Barteldes

Dos blogs da adolescência aos textos erótico-metafísicos da vida adulta, minhas crônicas sempre foram meu lugar seguro de entrega. Professora de Yoga, terapeuta holística, tradutora, arte-terapeuta, drag queen, cantora, cronista..faço mais coisas do que devia por acreditar que uma só forma de ver o mundo não basta e que a vida é mais bonita de dentro do caleidoscópio.

 

Blog

 

@jamiebarteldes

 

@adragdelirio

Há uma semana não te vejo e teu contato vai descendo na lista do whatsapp, vou esquecendo teu cheiro, teu toque, o jeito que só você me chupa. Só lembro que era bom e um calafrio arrepia os pêlos do meu braço quando aceito que vai ser assim daqui em diante. Corpos, que antes se atraíam, agora parecem se repelir, e a vontade de te encontrar se torna receio de te ver e não saber como não te desejar.

 

Minhas horas vagas, que por um tempo foram tuas, vão sendo ocupadas por outras bocas, outros corpos, outras histórias – novas e antigas. Relembro as horas compartilhadas num passatempo cansativo e viciante de tentar entender quem errou ou quando exatamente tudo começou a ruir.

 

Empenho-me na tarefa de te esquecer. Cada dia sem mensagens suas apaga um pouco mais os cenários imaginados na tua companhia. Envelhecem em sépia as transas que nunca tivemos, as palavras que não dissemos, os beijos lentos, o desejo inflamado, o proibido delicioso das poucas e boas tardes que tivemos enquanto cabíamos na rotina um do outro.

 

É morno acompanhar uma paixão que morre aos poucos. O desejo sustentado pela masoquista esperança de que tudo mudará e voltará a ser como era antes ou que algo excitante há de transformar essa energia pesada de culpa que teima em se manter entre nós dois. Doeria menos se houvesse um desentendimento. Uma falha de caráter inadmissível. Uma discussão esquentada, portas batendo, sexo de reconciliação e nunca mais nos vemos. Um flagrante descuidado, tudo descoberto, contato forçosamente interrompido.

 

No silêncio da indiferença, da falta de tempo e do orgulho, estamos em estado de não-encontro e eu aprendo a viver seca nos lugares em que você, água que é, me inundava.

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