Uma voz narradora nos atinge. Lla propõe uma ecologia que busca reativar elos entre nós, dentro de nós e entre nós e o cosmos, a partir das mais distintas reservas de amor transbordantes ou escassas que se pode cultivar ao longo da vida.
Desejos, medos e melancolias presentes em nossos relacionamentos amorosos também constituem as relações com o meio em que vivemos. Essa voz narradora nos chama atenção para incêndios e derretimentos. Naturais, propositais, criminosos ou não, eles sinalizam ciclos de destruição e recomeço.
Em mercúrio, a prosa poética de Bianca aponta a necessidade e o prazer em mensurar o mundo. Ao conhecer objetos, seres e paisagens em afetos, qualidades, dimensões e limites, podemos armar táticas para o cuidado do ecossistema. Somos nós as áreas constantemente devastadas.
A voz que narra aprende com os fenômenos naturais e os danos causados pela ação humana no planeta a urgência de um abraço, a salvação pela palavra, mil desculpas para a fuga. Apesar do choque violento com outros corpos e das intempéries sazonais, algo insiste em durar.
Como a caatinga no nordeste brasileiro, sua vegetação de cactos e pouca folhagem, a cada fevereiro teimamos em acreditar na chuva. Se ela não vem, somos nós mesmos a cair das nuvens e brotar.
(Raisa Christina)