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Uma voz narradora nos atinge. Lla propõe uma ecologia que busca reativar elos entre nós, dentro de nós e entre nós e o cosmos, a partir das mais distintas reservas de amor transbordantes ou escassas que se pode cultivar ao longo da vida.

 

Desejos, medos e melancolias presentes em nossos relacionamentos amorosos também constituem as relações com  o meio em que vivemos. Essa voz narradora nos chama atenção para incêndios e derretimentos. Naturais, propositais, criminosos ou não,  eles sinalizam ciclos de destruição e recomeço.

 

Em mercúrio, a prosa poética de Bianca aponta a necessidade  e o prazer em mensurar o mundo. Ao conhecer objetos, seres e paisagens em afetos, qualidades, dimensões e limites, podemos armar táticas para o cuidado do ecossistema. Somos nós as áreas constantemente devastadas.

A voz que narra aprende com os fenômenos naturais e os danos causados pela ação humana no planeta a urgência de um abraço, a salvação pela palavra, mil desculpas para a fuga. Apesar do choque violento com outros corpos e das intempéries sazonais, algo insiste em durar.

Como a caatinga no nordeste brasileiro, sua vegetação de cactos e pouca folhagem, a cada fevereiro teimamos em acreditar na chuva. Se ela não vem, somos nós mesmos a cair das nuvens e brotar.

(Raisa Christina)

MERCÚRIO

bianca ziegler

1ª edição, 2019

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