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Liziane Karine

Vou aqui te recriando enquanto durar essa estrada que nos torna ainda mais distantes. Mapeei mais uma vez a tua língua passeando pelos meus dentes, tua língua que parecia um movimento harmônico de uma pianista a dedilhar todas as teclas em um passe único, minha boca já foi teu som favorito. Hoje, sobre nós, ela é silêncio, a tua boca também. Como boa ébria, me viciei a pensar em ti nas estradas que me levam a outro lugar, mas nunca ao teu abraço. É como se na travessia de um destino ainda houvesse a possibilidade do nosso encontro, essa saudade que se lança ao infinito, cada vez mais longe do alcance e lânguida no impulso. A estação chuvosa deixa o caminho que sigo mais bonito, uma quase totalidade verde se não fosse as flores destoando tal dominância.  As fotografias que capto agora são diferentes quando, ao fechar os olhos, resgato o concreto e a noite que dominam o teu álbum, as tuas imagens construídas pela minha memória, esse apego sem fim. Dessa estrada que sigo agora, me inspiro a te resgatar, não mais angustiada, te dou vida numa narrativa feliz de uma manhã que nunca aconteceu, desse verde vibrante da mata de agora imagino nós dois deitados numa cama, procrastinando o mundo, pois o universo só faria sentido na dinâmica dos nossos beijos.

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