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ESCRITOS

Elaina Forte

Mestranda em Direito pela UFC, acredita na pluralidade das existências, na educação e na arte

como transformadoras do mundo. 

É fotógrafa no Elaina Forte Fotografia e já não sabe como seria viver sem escrever: seja no papel, seja com a luz. Em seus projetos, seja na pesquisa acadêmica ou na fotografia, os temais centrais são gênero, direitos humanos e corpo, como território e narrativa.

As lembranças são alicates.

 

Dezenove horas, planetário, Dragão do Mar. às vinte horas, show na Caixa Cultural da Tetê e

Alzira Espíndola. Eu, que sempre gostei de ser pontual, apressei o ritmo e às dezoito horas já

havia chegado.

Era o terceiro encontro de finais de semanas consecutivos que nos víamos. Eu mais na sua

casa que na minha. Eu sendo lambida e engolida pelo mar que eu sempre apreciava da

varanda do teu apartamento.

Fazíamos playlist juntos, cozinhávamos, pedaladas matinais, corres, banho de mar.

Incendiávamos todo o apartamento, a tua pele se misturava com a minha e eu não saberia

dizer, quando olhava o horizonte, se era a luz do crepúsculo se formando ou os nossos corpos

em chamas, afinal, a primeira visão da minha retina era tua relva loira, expandida na cama.

Não sei quando começou a se desenhar o fim, nem sei se começamos, na verdade. Para mim

sim, talvez. Eu só sei que depois parou. Mensagens não respondidas, visualizações não

correspondidas, até meu biquíni eu desisti de ir pegar. Você esvanecia.

E eu segui. Tinha viagem marcada. Buenos Aires, 2017 e um outono inteiro pra te esquecer.

Um friozinho um tanto cálido para apagar a lembrança do nosso último show, que eu,

bobamente, pensei estar; "escrito nas estrelas".

"Signo do destino que surpresa ele nos preparou/ meu amor, nosso amor/ estava escrito nas

estrelas/ tava, sim".

Se algo estava escrito, foi rasurado. E, no papel, quantas vezes eu escrevi esse trecho pra mim

mesma, pra fazer eco, pra dar o nome ao nosso desenredo, para desenhar a tua ausência, pra

dar forma, para tornar mais palpável o desenlace.

 

Tantas vezes eu escrevi e depois engoli a seco, a tinta ainda fresca, que rasgava na garganta, o

papel azedo. Eu, toda canibal de ti, de mim, da poeira do nosso (des)amor.

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